Toda infância que se preze deve ter em seus cenários pelo menos uma bela praça. Digo isso porque boa parte da minha meninice foi enriquecida por experiências variadas, de aventuras mil, em um lugar aprazível, com jardins, espelhos d’água, rampas, bancos, e tesouros a descobrir em cada canto, como só crianças podem ver. Mas desde os primeiros anos uma coisa me intrigava nos ajardinamentos das praças. Todas, sem exceção, apesar dos belos projetos, dos jardins cuidados, com traçados de calçamentos planejados, tinham (e tem, mesmo hoje) atalhos nas gramas, rebelados contra a lógica das pranchetas. Nos traçados dos tais atalhos, como numa grande metáfora da vida, o caminho é mais curto, o respeito às regras desaparece com a vegetação, o individualismo aponta a direção, e a massa de caminhantes demonstra a disposição em seguir cegamente o que todo mundo faz. Assim são nossas vidas, ou corações, como belas praças, desenhadas com esmero pelo Criador, originariamente cheias de coloridos de flores naturais, céu aberto e espaço para as alegrias paradisíacas da alma em comunhão com a revelação natural (e especial) da Sua glória. Nos lugares das praças da intimidade, caminhos de delícias e veredas de paz (Provérbios 3:17), idealizados por um Deus que não tem pressa, que é zeloso por tudo o que faz, que tem em mente uma sociedade restaurada e que espera obediência dos que o temem. Infelizmente, na vida, como nas praças, nossos corações também vão sendo marcados por atalhos. Na ânsia de chegar a lugares comuns da ganância humana, os caminhos são encurtados pelo egoísmo e pela falta de ética (Provérbios 2:13); no desespero de prevalecer sozinho, em meio a bilhões de semelhantes, pisaduras maltratam o verde virgem, não importando quem dele venha a ficar privado; no desejo de ser independente, o prazer se dissocia de propósitos dignos para se lançar no vazio de uma existência sem vínculos. Praças e mais praças, no ambiente da diversidade humana, nas quais deveria predominar a beleza do projeto original do Senhor da estética, têm sido afeadas por atalhos de destruição e miséria (Romanos 3:16). Atalhos para uma sexualidade irresponsável, anti-natural, perversa e contrária aos propósitos divinos; atalhos de miséria interior, conduzindo a enganosos destinos de alívio, das drogas lícitas ou não; atalhos de árido materialismo, conduzindo à desigualdade social; atalhos para ermos distanciados de Deus. Como pessoas que temem ao Senhor, nossa aspiração deve ser andar pelos caminhos do Senhor, orando como o salmista (25:4) – “Faze-me saber os teus caminhos, Senhor; ensina-me as tuas veredas” – e evitar os atalhos. Deus continue a te abençoar!
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