O histórico de direitos humanos do Sri Lanka foi questionado durante a
cúpula de Commonwealth (Comunidade Britânica), em Colombo. Diversos líderes
boicotaram o evento e o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron,
garantiu que faria "duras perguntas" ao presidente do Sri Lanka,
Mahinda Rajapaksa
Uma das linhas de questionamento pode ser focada no
relacionamento do Sri Lanka com as minorias religiosas. Em um país dominado por
budistas, a minoria cristã (cerca de 7%) e muçulmana (10%) tem reclamado de
discriminação e agressões.
Entre janeiro e setembro deste ano, foram registrados 64 atos de violência
contra cristãos, muitos ligados ao grupo extremista budista Bodu Bala Sena,
incluindo incêndios criminosos, demolição de igrejas, ataques de
multidão e agressões, informou a organização Christian Solidarity Worldwide (CSW).
O ataque à Aliança Evangélica Cristã Nacional do Sri Lanka (NCEASL, sigla
em inglês), agora é o ato de número 65. "Pastores têm sido ameaçados,
sujeitos à coação e fechamento forçado de igrejas e outras formas de
discriminação. E até mesmo alguns cristãos têm sido forçados a renunciar sua
fé", contou Yamini Ravindran, da NCEASL, à rede BBC.
Enquanto isso, o governo anunciou planos para introduzir regulamentações
contra publicações que "difamem os ensinamentos originais e as tradições
das grandes religiões". Embora seja uma medida positiva exteriormente, a
legislação tem sido assemelhada às controversas "leis anti-conversão"
da vizinha Índia.
O Centro para Alternativas Políticas, um laboratório de ideias sediado em
Colombo, disse que as propostas colocariam um "selo de aprovação oficial
no deslize do Sri Lanka em direção ao extremismo religioso majoritário e à
violência sectária".
Sobre as "leis anti-conversão" da Índia, a Comissão dos EUA sobre
Liberdade Religiosa Internacional, um órgão consultivo do congresso
norte-americano, disse que "embora com a intenção de reduzir conversões
forçadas e diminuir a violência popular, os estados com essas leis têm mais
incidentes de intimidação, assédio e violência contra as minorias religiosas,
especialmente os cristãos, do que os estados que não as têm".
A CSW informou que autoridades do Sri Lanka começaram a pedir às igrejas
estabelecidas para provar sua legalidade a fim de terem permissão de continuar
funcionando. Durante uma visita ao Sri Lanka, em setembro, a Alto Comissária da
ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, disse que estava "especialmente
alarmada com a recente onda de incitamento ao ódio e à violência contra as
minorias religiosas, incluindo os ataques a igrejas e mesquitas, e com a falta
de ação rápida contra os agressores".
Ela disse que o governo "parecia minimizar essa questão ou até colocar
a culpa nas comunidades minoritárias". Navi disse que ouviu relatos
"perturbadores" de proteção do Estado a grupos extremistas e instou
com o governo para enviar "o sinal mais forte possível de tolerância
zero" a tais atos, punindo os agressores.
Entretanto, antes da cúpula de Commonwealth, o ministro de comunicação
social disse que o país não seria intimidado. "Somos uma nação soberana.
Você acha que alguém pode fazer alguma exigência ao Sri Lanka?", disse
Keheliya Rambukwella.
Os Chefes de Estado da Índia, Canadá e Ilhas Maurício declinaram da
oportunidade de comparecer à cúpula de 50 países, ocorrida entre 15 e 17 de
novembro, que foi aberta pelo Príncipe Charles. O Canadá designou recentemente
Adrew Benett como seu primeiro embaixador para liberdade religiosa. O
primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, disse: "Está claro que o
governo do Sri Lanka falhou em sustentar os valores fundamentais de
Commonwealth".
Em uma entrevista recente à rede BBC, um pastor do
Sri Lanka falou de um ataque à sua igreja. O pastor, que preferiu ficar
anônimo, disse que dois monges budistas tinham atacado a igreja, gritando:
"Esta é uma nação budista, um vilarejo budista". Ele disse que os
monges ameaçaram matar os cristãos e acrescentaram que iriam incendiar a casa
do pastor quando voltassem.
Foto: James
Gordon / Flickr / Creative Common